sábado, 21 de outubro de 2017

A Cabeça do Bacana

Bacana foi encontrado sem cabeça em seu apartamento em cima da cama. Havia sangue por todas as partes e seu corpo ainda não havia ficado completamente frio. Não ouviram nenhum grito ou pedido de ajuda, nem mesmo os móveis haviam sido derrubados. A Loira, sua namorada, estava dormindo na casa dos pais naquela noite. Alguns jornalistas mais carniceiros sabiam que havia acontecido alguma coisa no prédio da jovem celebridade, mesmo a policia ainda não ter divulgado nenhuma informação. Simplesmente sabiam que algo aconteceu e queriam ser os primeiros a dar a notícia. Renderiam excelentes breaking news.
 Bacana estava num patamar elevado, mesmo com tão pouca idade. Começou ainda menor de idade fazendo vídeos cômicos para a internet com uma câmera de baixíssima qualidade, que em pouco tempo fez um grande sucesso. Sua carreira estava estabelecida há pelo menos seis anos, assim como uma pequena fortuna. De origem humilde e com vídeos amadores, evoluiu para um ator de comerciais, comediante de stand up e dono de uma pequena loja virtual.
A portaria havia sido acionada às três horas da manhã por um dos moradores que estava chegando. Havia sangue na porta e no tapete de entrada do apartamento do rapaz, o que era assustador por si só. Bateram na porta várias vezes, e quando não houve resposta ficaram preocupados. Sabiam que o dono não tinha sono pesado, além de ser uma pessoa de hábitos noturnos. Ligaram para a namorada, outra celebridade que começou sua carreira na internet, e perguntaram se ele estava com ela. Dada a resposta, esse foi o sinal verde para entrarem no apartamento e verem a cena horrível.
A polícia e a perícia técnica chegaram menos de meia hora depois. Alguns ali eram fãs do rapaz, e vê-lo daquele estado era algo mais repulsivo do que seria de costume. Se fosse qualquer outra pessoa que não fosse admirável seria apenas horrível, mas como era o caso, também era revoltante. O mais estranho daquela história era o fato de quem quer que tenha feito, planejou tudo com muito cuidado. Não havia nenhuma digital, nem pegadas de sangue ou sinal de violência. Tudo foi muito bem arquitetado para ser uma grande intriga, apesar das investigações iniciais serem muito superficiais. 
Mas o mais estranho daquela história era a cabeça de Bacana: ela havia sumido. Procuraram em vários lugares em que poderia estar, mas ela havia sumido.
Os curiosos já haviam se aglomerado na frente do prédio. Todos ali queriam, em primeira mão, saber o que estava acontecendo. Apesar de ser muito tarde da noite, o número de pessoas haviam passado de dez, incluindo os já ditos jornalistas. Os mesmos sabiam que em pouco tempo iriam falar, e se fosse algo sobre Bacana, seria melhor ainda.
O mais estranho e irônico daquela história era que, apesar deles estarem no local do crime e possivelmente serem as primeiras pessoas a terem informações sobre a morte, na verdade eles foram os últimos a saber. A internet foi à loucura naquela noite, e apesar de muitas pessoas suspeitarem de ser uma notícia falsa, boa parte acreditou por motivos que nem mesmo elas sabiam dizer. Fóruns, redes sociais e portais de notícia sensacionalistas já estavam correndo a informação.
Mas como poderiam estar cientes do que havia acontecido, uma vez que nem mesmo a polícia havia divulgado o que havia acontecido? Muito simples.
A cabeça do Bacana havia sido posta num leilão da internet, com fotos muito realistas e convincentes dentro de uma geladeira. Algumas pessoas começaram a analisar essas mesmas fotos, pixel por pixel, e comprovaram serem todas verdadeiras. O texto da descrição do leilão foi o horror de muitas pessoas.
“Gente como eu sou Chato matei o Bacana. Preciso pagar o aluguel e to vendendo a cabeça dele, será que vale alguma coisa? Ainda ta com as marquinhas da faca no pescoço, o melhor lance leva! Corram, senão vai esfriar muito!”

E com isso começaram os lances. Alguns altos demais.

Um comentário:

  1. No quarto parágrafo, "também era também revoltante" não deveria ter um "também" a menos? Ótima estória!

    ResponderExcluir