sábado, 1 de outubro de 2016

Esclarecendo algumas coisas

Saudações, aqui quem fala é o Gabriel/Dremock.

Eu sei que muitos dos que acompanham o blog há algum tempo (esse meu público pequeno, mas muito estimado) podem estar se perguntando: "Alguns dos contos do blog sumiram, o que aconteceu?"

Bom, de fato, alguns dos contos do blog sumiram, mas foi por um bom motivo. O primeiro deles é que alguns desses contos que removi, tinham uma história boa, porém o texto não estava do jeito que eu gostaria. Escrevo aqui no blog desde o começo de 2014 e desde lá minha escrita e senso critico melhoraram. Podem ver que contos vem melhorado em quesito de escrita e narração do começo do blog até agora. Então, alguns desses meus contos antigos tinham uma boa história, uma boa ideia, mas a escrita ainda estava de uma forma amadora e eu não gostei nenhum pouco disso. Então, o primeiro motivo do qual eu os removi foi que eu os melhorei na parte da escrita e os deixei esteticamente melhores e até mais confortáveis de serem lidos. O segundo motivo foi que eu decidi usar esses contos que eu removi em uma coletânea para publicar.

Quem ainda tem paciência para ler o que escrevo (risos) e acompanha o blog desde 2014, sabe que a primeira história que eu publiquei aqui se chamava "O Poeta", e essa também sumiu. O motivo disso foi que ele está para ser publicado pela Editora Fragmentos agora no final do ano. Ela é uma história muito extensa para ser publicada em um simples blog, além de que ela seria um bom caminho para seguir na carreira de escritor, então decidi mandá-la para as editoras e fui contemplado pela que citei acima.

A mesma coisa aconteceu com os contos que removi. Ainda estou organizando essa coletânea e não tenho editora para a mesma, além de que me falta escrever mais dois contos para concluí-la, mas o que quero dizer é: não se preocupem, essas histórias não estão "perdidas", e sim só trocando de plataforma.

O blog não vai parar, podem ficar tranquilos (ou não), pois eventualmente estarei publicando alguns contos ou até mesmo republicando contos antigos, mas mais "lapidados" (como o que aconteceu com "Canção Para Amanda", que troquei para "Magnum Opus" e com uma escrita pouco melhor). A questão é que, como eu ainda almejo ser escritor profissional e tudo mais, eu preciso começar por algum lugar. Embora uma das minhas portas de entrada seja o blog, não posso ficar aqui para sempre, então eventualmente terei que migrar para outros rumos. E como tinha vários textos prontos, decidi utilizá-los para não desperdiçar meu trabalho.

Mas, em respeito a vocês, decidi manter aqui no blog vários contos que eu desejaria usar em uma coletânea ou até mesmo na mesma que estou montando, mas não quis fazê-lo. E não pensem que tomei essa decisão por achar que determinados textos estão "piores" do que os que removi (não me considero um escritor bom, ou pelo menos, bom o quanto gostaria, mas sei muito bem que existem histórias minhas que são melhores e piores do que outras), mas sim, em respeito a muitos de vocês, que não são muitos, admito, mas que estão aqui e acompanham o trabalho de um jovem meio bizarro e com vários sonhos.

Então é isso o que eu queria deixar para vocês. Como disse, o blog não vai parar, embora nos últimos tempos as postagens estejam escassas, mas o fato é que não vai parar. Eu sei que raramente dou as caras pessoalmente por aqui, mas quando isso é necessário, cá estou. Em breve vou dar mais detalhes sobre o lançamento do livro "O Poeta", então acho que vou começar a aparecer mais "pessoalmente" daqui pra frente.

Era só isso que eu tinha pra dizer. Agradeço a quem leu até aqui e acho que nunca agradeci por escrito por todo mundo que vem aqui e lê meus trabalhos, então: OBRIGADO! :)

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Magnum Opus

Amanda estava ficando cada vez mais doente. Ninguém sabia dizer o que tinha, mas meu amor estava morrendo. Ela sempre me apoiou e passamos até fome juntos, mas sempre ficamos um ao lado do outro. Agora tenho um violão e meus braços, e seu cadáver em minha frente.
            Conheci-a enquanto tocava em um bar, durante os meus vinte e poucos anos. Eu tinha uma banda na época, e ela se interessou por mim e eu por ela. Lembro-me até mesmo de que quando notei sua presença do palco me desconcentrei a ponto de quase arruinar a música. Foi uma situação um tanto engraçada e embaraçosa.
            Começamos a sair e a namorar pouco tempo depois de que ela veio falar comigo após a apresentação. Amanda era uma mulher muito bonita, de cabelos louros e olhos azuis. Gostava de música popular, e principalmente, das minhas. Eu não gostava nem tinha muita facilidade para cantar, mas tocava violão e guitarra muito bem. Era o que eu mais adorava fazer, e tirava meu sustento disso.
            E Amanda me apoiava sempre para eu seguir em frente com a minha música, mesmo depois que fomos morar juntos e tivemos muitas dificuldades com dinheiro. Sua família a condenava por ter escolhido viver comigo e me odiavam muito. Seu pai muitas vezes lhe chamara de vagabunda e de inconseqüente, por colocar sua vida no lixo para viver com um fracassado, que nunca poderia dar uma boa vida.
            Por conta disso, era só eu e minha esposa. Nós contra o mundo, e o mundo contra nós. Mas mais forte que tudo isso era o nosso amor. Quando sempre parecia que não havia mais esperança para nada, encontrávamos forças um no outro.
            Até aquela manhã.
Certo dia me veio a idéia de uma composição. Não de maneira completa, mas fragmentada. Estranhei essa invasão minha mente. Era boa, mas um tanto peculiar. Tomei meu violão e comecei a tentar formar a música. Ela era mais difícil do que eu imaginava de por na prática, e até mesmo pensei em desistir quando não conseguia ajustar os acordes e não definia o tom certo. Mas ela me viu compondo aquilo e ficou boquiaberta. Segundo Amanda, minhas composições todas eram maravilhosas, mas essa em especial, tinha potencial para ser a melhor de todas. Depois de dizer tudo isso, sorriu.
Aquele sorriso delicioso me deu um novo vigor e eu me determinei a terminá-la.
            Era difícil, mas eu não conseguia parar de tentar. E quando ela demonstrou sinais de que estava ganhando vida, Deus me perdoe por não ter percebido, Amanda começou a demonstrar sinais de que estava ficando doente. Começou com coisas simples, como um resfriado, e aos poucos essa coisa estava evoluindo para alguma coisa maior. Os médicos não sabiam dizer o que estava acontecendo com ela, mas estava ficando cada vez mais fraca, e sua voz cada vez mais baixa. Seu cabelo e olhos foram perdendo o brilho e sua pele ficando cada vez mais pálida.
            Eu estava desesperado. Pensei em avisar a família dela, no entanto ela recusou. Parecia ter aceitado tudo aquilo. Os médicos me disseram que Amanda não iria sobreviver muito tempo, e que eles fizeram tudo que podiam. E parece que ela sabia disso.
            Em sua fragilidade, apertou minha mão na cama do hospital e pediu com sua voz fraca e rouca, quase como um sussurro, que eu tocasse para ela aquela música. Queria ouvir minha maior obra prima antes de partir. Um nó se formou em minha garganta com aquele pedido. Eu havia trazido meu violão para o hospital, pois achava que ela iria querer algo do tipo, mas não pensei que ela fosse querer ouvir aquela composição.
            Busquei o instrumento e pedi para ficar sozinho com Amanda. Sentei-me em uma poltrona ao lado de seu leito e comecei a tocar. O tempo inteiro, eu estava me esforçando para não chorar na frente de minha esposa, mas eu não conseguia. A medida que a música fluía de meus dedos, as lágrimas escorriam de meu rosto.
            Quando toquei o acorde final, me atrevi a olhar para o rosto de Amanda. Seus olhos estavam parados e um sorriso estampado em seus lábios. Eu nem mesmo lembro-me do que aconteceu depois, mas fiquei chorando com meu violão no colo.
            Os dias seguintes se passaram sem muita pressa, mas rápidos como um trovão. Não tinha mais nenhuma família. Não sentia o gosto das minhas refeições, não achava graça em nada, nem mesmo tocar me dava prazer. Eu não sabia que idéias tentar, nem tinha vontade de pensar nisso.
            Mas daí então, em uma das minhas caminhadas sem muito interesse, eu passei na frente do bar onde a conheci. Minha alma se encheu de nostalgia e dor. O lugar estava um pouco mais bonito, mas ainda parecia ser o mesmo. O dono estava do lado de fora e me reconheceu. Conversamos por alguns minutos, e o mesmo me convidou parar tocar no bar. Eu estava sem trabalho naquele momento, e pensei que talvez algo para me ocupar me fizesse tentar esquecer por algum tempo. 
            Aceitei e comecei a treinar algumas canções que ele pedira. De certa forma, aos poucos eu via na música algo que eu talvez pudesse ir em frente. Cada acorde tocado me lembrava Amanda e toda a força que ela me deu durante esses anos todos. Um sorriso se estampou em meu rosto. Decidi que não iria deixar que toda a força que ela me deu fosse em vão. Iria continuar, pela sua memória.
            Chegou à noite e eu estava no camarim do bar. Havia um número considerável de pessoas. Não estava nervoso, pois já havia tocado várias vezes e eu gostava muito daquilo. As pessoas estavam gostando muito de meu desempenho e isso me deixava mais animado. Talvez fosse o mais perto de felicidade que eu havia obtido nesses últimos tempos.
            Mas daí me surgiu a idéia de tocar uma música minha. Eu tinha várias composições, e fiquei um pouco indeciso no que tocar. Então me lembrei da que Amanda havia pedido para eu tocar em seu leito de morte. Eu estava com receio de tocá-la, mas decidi homenagear minha finada esposa com essa canção. Anunciei no microfone que tocaria uma música própria e todos voltaram a atenção para mim. Fiquei um pouco nervoso, admito, ainda mais quando todos ficaram um pouco quietos.
Então comecei a tocar. Batizei-a de “Amanda”.
            O som fluiu como uma brisa de verão, tão natural quanto o canto dos pássaros. Fechei meus olhos e continuei tocando por vários minutos. Comecei a perceber que a música era, definitivamente, a minha melhor. Magnum Opus. É, essa era minha Magnum Opus. Eu pensei em Amanda o tempo todo em que toquei, e o público estava quieto, mas eu não percebi isso.
            Foi então quando toquei o acorde final, enquanto abria meus olhos. Não entendi nada do que havia acontecido ali, mas um frio subiu minha espinha.

            Todos estavam caídos no chão com um sorriso no rosto.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Coletânea de Poemas

Sadismo

O que é de minha humanidade?
Minha loucura tirou meu melhor
E eu fantasio apenas o pior
Para alimentar minha insanidade

Eu imagino o sofrimento
Nas curvas de seu sorriso
No mais longínquo abismo
Eu ouço seu choro de lamento

Tome esta pá, coveiro
Eu quero que me enterre vivo
Mas me tire desse abismo

Tome esses restos, carniceiro
Não deixe essa lâmina enferrujar
Para minha loucura nunca curar






Suicídio

Ela está pensando em se matar
Seu corpo está emerso no lago
O chão seus pés não podem tocar
Está pensando em seu estrago

Não se lembre de suas virtudes
Sua respiração ela pode ouvir
Tão frio e duro como suas atitudes
Agora ela consegue dormir

Ela já me amou um dia
Ou assim a fiz pensar
Todos estão no alcatrão

Assim como o fumante com nicotina
Todos são viciados em amar
E isso é mais um palavrão


  



Observe

Você está perdido na fumaça
Dos corpos que queimou
A fuligem entra pela sua boca
O câncer corrói seus pulmões

Tua carne é comida pela praga
Que tua filha criou
Teus gritos a deixam louca
Isso consome os pulmões

Olhe para a serpente
Que alimentou no seio
Olhe para o parente
Que guardou no peito

Eles gozam de tua agonia
Não há nenhum ar livre de fumaça
Quebre esses elos e te enfureça
Mostre esse demônio na fumaça






Milagre

Maldito seja o leite que mamei
Maldito o ventre que me produziu
E todos aqueles a quem mentiu
Porque ao teu chicote me apeguei?

Teu filho foi nutrido com sangue
Mesmo do mais nobre
Ele quer beber do meu sangue
Mesmo do mais pobre

Sangre teu maldito veneno
Que tua voz solta
Sobre tua amada morta
Declame teu soneto nojento

O frio tira a vida da Terra
Essa névoa fede a enxofre
Tudo piora perto da serra
E o que fica é frio e podre






Corvos

Ser de asas negras
Que voa acima da carniça
Ave de penas pretas
Que sobrevoa a carne apodrecida

Quando ele é avistado
Trás o anuncio da morte
Ele é visto pelo homem listrado
E pelo guerreiro bravo e forte

São mensageiros das trevas
Voam acima da batalha
Se fartam com a carne da mortalha

Trazem um cheiro de podre
Tal como o enxofre
E da morte gralham sobre

Seu bico fura a carne fraca
E ela entra como uma faca
Os espantalhos tentam afastar
Mas dos restos estão a se fartar

Seu gralhar os moribundos podem ouvir
Almas penadas para eles estão a sorrir
Seus olhos podem ver tudo
Da podridão ele limpa o mundo

Corvo, ave de cor negra
Seu choro ecoa pela igreja
Corvo, ser de atos sombrios
Coma esses restos frios





Universo

O frio cósmico flagela
O calor das estrelas não basta
Essa galáxia congela
Morte também tem sua graça

Estou aqui nesse mundo
Com bilhões de anos de idade
Essas explosões me deixam surdo
Cômico é toda essa maldade

Algo emerge nos abismos celestes
Silencioso e rápido como uma cobra
Que desliza na grama dos estepes
Pavimentando tudo o que sobra

Gargantas foram cortadas pela faca
Assim que regresso de meu retiro
É assim que o universo acaba
Não com um estouro, mas com um suspiro




Cansaço

Com o vinho ao meu lado
Um olhar frio e pesado
Tinta e pena como fardo
Sinto-me muito mudado

Sentado em uma solidão
Acompanhado da podridão
E a música de um vilão
Olho para essa vil situação

Cada verso é curto e assimétrico
Mas nenhum pouco eclético
Então que seja estético

A grande carreira dos mortos
Que deixa dizeres tortos

Nos já fadados portos 




Aguardo

Através dessa montanha
Do qual não posso escalar
Há um vale tão fundo
Que o Sol não pode iluminar

As estrelas são minha companhia
Enquanto olho a parede de pedra
Que sempre tento subir
Caí e quebrei ossos e sonhos

Mas não estou sozinho aqui
Apesar de me sentir assim
Vários fantasmas e monstros
Observam minha agonia

Estou ferido, com várias dores
Além de escrever com sangue
Essas palavras que enviarei
No bico de uma ave moribunda 




Dores

Filhos da Noite
Nascidos na lua cheia
Assombrados pelo silêncio
Alimentados com cinza de corpos
Filhos da Noite
Adoradores da lua cheia
Acompanhados pelo silêncio
Besuntados com sangue de corpos

Na noite sem estrelas
Onde as nuvens pesam
Respiro um vento frio
Que faz meu pulmão doer
Na noite sem estrelas
Quando as almas pesam
Sou cortado com ar frio
Que faz meu coração doer

Dói demais essa noite
Do qual meus filhos nasceram
Ninguém poderá intervir
Nessa loucura
Dói demais essa noite
Do qual meus inimigos nasceram
Eu não posso intervir

Nessa loucura