Gustavo ouvia suas músicas
enquanto terminava o trabalho da escola. Uma das abas da internet estava aberta
no perfil de Roberta. “Por que eu ainda faço isso? Por que eu faço isso?”. Havia
avistado ela pela primeira vez há um ano e meio, no começo do primeiro ano e
desde lá tinha essa coisa presa na garganta. Depois de uma semana que começou
as conversas tímidas com ela, veio àquela flecha nas entranhas. “Em um
relacionamento sério com Daniel Pazzo.”
Não
conhecia o sujeito, mas o odiava.
Cada música em sua lista de reprodução era uma memória. “Como
canções podem expressar tudo o que sentimos...” Estava ouvindo Linkin Park no
momento em que vira aquilo que fora o tormento até o fim. Era como um mártir
que gostava de ter, no fundo se achava masoquista. “Essa tava tocando quando
ela disse que tinha feito sexo com ele...”
Não
conhecia aquele cara, mas queria seu coração em uma travessa de prata.
Olhava as fotos de Roberta apenas para açoitar a própria
carne com aquele sorriso de garota comprometida. “Eu nunca a faria sorrir desse
jeito.” Sabia disso porque ela só o procurava para chorar. Gustavo no fundo acreditava
que o sofrimento era normal de ser atraído para si, pois a pessoa que amava só
falava de coisas ruins. No fundo era tudo culpa dele, pois era uma pessoa
triste e atraia tristeza. Roberta de fato merecia algo melhor, e ele seria
usado como pano de chão.
Já
eram dez horas e o trabalho estava praticamente pronto. Minimizou a tela e fora
olhar um pouco das redes sociais. Curiosamente havia uma solicitação de amizade
com um nome muito estranho. “ErFlor LaBak...”, Gustavo leu em voz alta. Esse
era o nome do perfil, que tinha como foto um alfabeto com letras vermelhas em
um fundo negro. Deu de ombros e aceitou, se qualquer coisa acontecesse era
apenas bloquear o sujeito.
Cinco
minutos depois, no meio de uma música de Bring Me The Horizon, tudo ficou
silencioso e escuro. “Porcaria de queda de luz.” Depois de um segundo, Gustavo
percebeu que não havia salvado o trabalho. Seu coração parou por um momento
para então começar a bater com toda a força. Ele havia demorado duas horas para
fazer toda a pesquisa e acertar os arremates. Sua mãe não deixaria ficar mais
meia hora no computador, e mesmo assim havia caído a luz.
Deu
um soquinho na testa e suspirou. “Porque eu não salvei essa porcaria?” Ele
sabia o porquê: era um retardado. Sempre esquecendo as coisas para deixar para
depois, e aí quando dá mal, não sabe o motivo. “Talvez se eu falar com a mãe
ela me deixa ficar um pouco mais até terminar quando a porcaria da luz voltar.”
Depois
de cinco minutos na escuridão e no silêncio, ele ouviu o som do microondas na
cozinha sendo ligado e as luzes se acendendo. Pelo menos não havia demorado
muito, e ele poderia recomeçar o trabalho rapidamente. Primeiro ele verificou
avidamente se o trabalho não tinha sido salvo automaticamente, mas não encontrou
nada. Suspirou e pensou em não fazer mais o trabalho. “Vale três pontos e você
está precisando disso.” Abriu a internet e começou a vasculhar o histórico,
para que não precisasse ter que pesquisar tudo de novo.Um som levemente
familiar lhe veio. Olhou para a aba do chat do Facebook e tinha uma mensagem.
“Não olhe agora, você precisa refazer todo o trabalho.” Mas não adiantou e ele
fora ver quem era.
Era
aquele novo amigo, o tal de “ErFlor LaBak”.
“Está
procurando por isso?”, junto havia um arquivo anexado.
“Não
clica nessa coisa, pode ter vírus.” Mas como era apenas um arquivo do Word, não
aconteceria nada de demais.
Ativou
o antivírus e baixou o arquivo.
Sua
boca se abriu em um ângulo de noventa graus quando viu o que havia. Seu
trabalho, todo ele, estava ali. As imagens, tudo o que ele havia formatado, estava
no arquivo que aquela pessoa mandou. Sua reação foi uma mistura de emoções. A
primeira delas era a extrema felicidade de ver que não perdeu tudo, e logo em
seguida as duvidas. “Como esse cara tinha o meu trabalho?” A primeira hipótese
foi que ele rastreou o IP do computador e achou o trabalho enquanto tentava
coletar informações. “Mas eu nem tinha salvado, não tem como alguém ter pegado.”
E a terceira pergunta era: porque ele ou ela fez isso? Cada hipótese deixava
Gustavo mais preocupado e assustado.
“Garoto,
imprima logo isso antes que sua mãe lhe tire do computador.”
Logo
quando veio essa mensagem, Gustavo ouviu sua mãe andando de um lado para outro
no corredor da sala. Ele sabia que ela estava prestes a ir dormir e ele também
deveria ir.
Aquele
perfil estava certo de novo.
“Amanhã
nós conversamos. Imprima e vá dormir.”
“Obrigado...”
Gustavo
imprimiu todas as doze páginas e desligou o computador. “Eu acabei de obedecer àquele
cara?” E ele nem sabia se era um homem ou uma mulher. Podia ser um maníaco que
estava lhe vigiando de perto faz muito tempo.
Ele
só conseguiu dormir quando quase era hora de acordar. Durante toda a noite
imaginava aquele perfil, ErFlor LaBak, aparecendo das sombras do seu quarto.
“Eu disse para você ir dormir!”. Era tudo muito inquietante em sua cabeça.
Valeu à pena ter ficado algumas horas fazendo aquele
trabalho, pois ele teve a nota máxima. Provavelmente não teria o mesmo valor se
ele tivesse perdido naquela queda de luz... Ou se aquela pessoa não tivesse lhe
dado uma cópia. Não comentou nada disso com ninguém, e era uma das poucas vezes
que queria ir para casa logo. Normalmente Gustavo ficava feliz de pelo menos
ver Roberta. Tinha dias que ela preferia ficar com outras pessoas, e ele
entendia isso. Quando podia pelo menos trocar algumas palavras com ela e lhe
admirar bastava. Mas quando ela tirava um tempo para falar com ele, mesmo que fossem
seus problemas, ganhava o dia.
“Ouvir
sua voz e sentir o cheiro agridoce de seu perfume é tão bom...”
Mas hoje era um dos raros dias que a beleza estonteante
de seus cabelos louros não era prioridade. Queria ir para casa e tentar a todo
o custo falar com aquela pessoa, que ele não tinha uma mínima noção se era
homem ou mulher. Mas uma coisa era certa: seu medo análogo a idéia de que
alguém estava o vigiando.
A tarde estava demorando a passar, os minutos eram
tortuosos. Aquele ErFlor LaBak não estava online, até que quando bateu sete
horas da noite, se irritou e escreveu algo no chat.
“Como você tinha o meu trabalho?”
“Achei que nunca fosse vir falar algo.” Nesse momento,
Gustavo percebeu que ele estava ali o tempo todo.
“Porque você não falou nada?”
“O interesse era seu.” Aquilo o deixou irritado, mas
relevou.
“Quem é você?”
“Não
tenho um nome, só juntei letras e criei um nickname para mim.”
“Você
está me vigiando?”
“É um
pouco idiota me perguntar uma coisa dessas, já que você posta até mesmo o que
come no café da manhã. Qualquer um vigia você se quiser.” Aquela pessoa estava
brincando com Gustavo. Seu semblante era de raiva e medo.
“Eu não
estou falando disso. Você tinha o meu trabalho!”
“Garoto, agora estamos começando a conversar...”
“Você está me deixando assustado desde ontem.” Admitiu
Gustavo.
“Não tem porque, meu amigo. Eu estou aqui apenas para
ajudar. Você tinha se esquecido de salvar o trabalho, eu lhe dei uma cópia.”
“Mas como você tinha?”
“Rapaz, tudo o que é feito no mundo digital eu tenho
acesso. Eu sou onisciente em todos os computadores, servidores, e até mesmo nos
livros.”
“Você é doente.”
“Eu? Não sou eu que fico agüentando o mártir da mulher
que amo enquanto sei que ela está na cama com outro, que por sinal odeio. Não
sou eu que vivo com a esperança que um dia irei me deitar com a mesma, sendo
que ela adora o calor de outro. Mas eu sou o doente, certo?”
Gustavo ficou quase cinco minutos sem saber o que
responder. Aquele estranho lhe mandou tudo como se fosse um tiro de escopeta. Ele
nunca havia dito aquilo para ninguém! Foi até a opção de bloquear, mas parou um
pouco antes de concluir.
“Não faria isso se fosse você, eu estou aqui para lhe
ajudar.”
Sim, aquela coisa, pois não ousava mais pensar naquilo
como uma pessoa, sabia exatamente o que ele queria fazer. Afinal de contas, o
que era aquilo? Parte de Gustavo queria descobrir, mas outra queria esquecer
daquilo tudo.
“Sugiro que siga em frente, Gustavo. A não ser que você
volte a viver como um macaco nas árvores, eu sempre estarei por perto para lhe
ajudar.”
“O que você quer de mim?”
“Era eu que deveria fazer essa pergunta, garoto.”
“...”
“Você quer tantas coisas, mas está com a bunda na cadeira
em frente de um computador. Eu posso lhe conseguir essas coisas.”
“Você é só um hacker que invadiu o meu computador.”
“Haha. Eu posso hackear o mundo a minha volta e fazer sua
vontade, Gustavo. Basta dizer seu desejo e serei seu mordomo.”
“Eu não sei o que dizer para você, seu filho da puta.”
“Isso, agora estamos ficando quentes! Eu vejo você
olhando as fotos de Roberta e seu desejo fica ainda mais forte quando ela fala
com você, mas ela te despreza muitas vezes lhe deixando sozinho com o ver sua
beleza. Você a quer para si.”
“Estou lhe avisando, se você fizer algo com ela eu te
mato.” Nessa altura, Gustavo nem mais se impressionava pelo fato dele saber de
seus segredos íntimos.
“Está esquentando! O que você ganha se eu fizer algo com
ela? Já te disse que estou aqui apenas para ajudar, e nada mais do que isso.”
“Ela está feliz do jeito que está.”
“Mas ela poderia estar feliz ao seu lado.”
“Ela namora aquele vagabundo.”
“Um homem morto não namora...”
Isso foi um basta para que Gustavo fechasse as janelas e
desligasse o computador. Aquela conversa maluca estava dando dor de cabeça para
ele e nada fazia sentido. A única explicação que o garoto conseguia pensar era
que algum colega de sala havia invadido seu computador e estava tirando onda
com sua cara.
Tinha que ser isso. Apenas uma brincadeira de mau gosto.
Novamente, sua noite de sono não foi tranqüila e perdeu
horas e horas até conseguir dormir. Duas horas depois seu despertador tocou e
parecia que um caminhão tinha passado por cima de sua cabeça. A dor não se fora.
No dia seguinte, Gustavo notou que Roberta estava quieta
e não falava com ninguém. Quando decidiu ir até ela, respondeu que o namorado
não havia respondido ela essa manhã, e nem ao menos visualizou as mensagens.
Pretendia ir até a casa dele depois da aula, pois estava preocupada. “Novamente
falando desse macho”, pensou. No fundo ele não sabia se não gostava dele ou do
fato de Roberta somente falar dele. “Não. Não gosto é dele.”
Roberta só entrou de novo nas redes sociais quando eram
quase nove horas da noite, então contou o que aconteceu: “Eu fui à casa de
Daniel hoje depois da aula. Quando cheguei lá, tinha um carro da policia saindo
e eu entrei na sala. A mãe dele estava em estado de choque, e quem me contou
tudo foi uma vizinha. Daniel amanheceu morto na cama. Ele teve várias artérias dilaceradas
por um arame farpado que ainda estava enrolado em seu corpo. A mãe dele disse
que não ouviu nada durante a noite, e nenhuma porta ou janela tem sinais de
arrombamento. O corpo dele apresentava sinais de luta, mas não havia nenhuma
evidencia que alguém entrou na casa. Acham que ele cometeu suicídio, mas isso
não faz sentido...”
Gustavo leu com
atenção todas as mensagens de Roberta e quase que no mesmo instante mandou uma
mensagem para aquela coisa.
“O que você fez?” A resposta veio quase na mesma hora.
“O que você queria garoto. Agora só depende de você para
que a mulher seja sua.”
“Você matou o namorado dela?”
“Eu lhe disse: um homem morto não namora.”
Gustavo não sabia direito o que pensar. Aquele ErFlor
LaBak de alguma forma matou Daniel, e fez isso porque ele queria! Não, isso não
era possível. Havia muita coisa passando em sua cabeça, mas não queria
acreditar nisso. “Entrego esse cara pra policia?” Ele era um hacker,
conseguiria se proteger muito bem e ainda poderia fazer com que Gustavo
parecesse culpado.
“A única coisa que pode lhe ajudar agora, garoto, é você
ir atrás de sua mulher. Seria um pouco massivo ter que matar outro homem que abre
as pernas dela, mas admito que seria tão divertido quanto foi o primeiro.”
Aquele sujeito... Ele sabia tudo o que se passava na
cabeça de Gustavo. Era como se fosse um demônio, uma coisa de outro mundo.
Mas e se aquela coisa estivesse certa? E se essa fosse à
oportunidade para conquistar Roberta? Pensando nisso, veio a outra mensagem da
menina.
“Gustavo... Eu preciso falar com alguém. Não vou à aula
amanhã, poderia vir aqui?”
Como um idiota que era, aceitou e foi. Matou aula para ir
até a casa dela, duas coisas que nunca tinha feito: matar aula e ir à casa de
uma garota. A primeira vista, Roberta estava acabada de tanto chorar. A
maquiagem borrada no rosto e nem sequer fora tomara banho. Gustavo nem percebeu
o que estava fazendo quando ela lhe beijou. A ficha só caiu depois e ela
parecia que sabia o que fizera. Ele não sabia direito o que pensar. Roberta
disse que não queria fazer isso, mas por um momento se parecia bastante com Daniel,
mas ele sentiu aqueles lábios furiosos e apaixonados nos seus. Seu namorado
havia morrido e ela já estava beijando outro no dia seguinte?
Gustavo ficou na casa dela aquele dia inteiro. Seus pais apareceram
apenas algumas vezes entre os pequenos intervalos no escritório que era perto
do prédio. Eles apenas conversaram, trocaram alguns beijos que Gustavo fez com
certo desgosto. Sempre sonhou com isso, mas não era como imaginava.
Estava um pouco mal por Daniel, pois
se sentia culpado.
Tudo começou bastante sutil entre Roberta e Gustavo,
ninguém notava nada. Todos seus colegas acreditavam que pela proximidade que
ambos tinham, ele estava apenas solidário com, mas havia aqueles que achavam
que o garoto estava se aproveitando da situação. Sua paixão não era uma
surpresa para ninguém, nem mesmo pra ela.
Depois de um mês, Roberta nem mesmo se lembrava de
Daniel. Gustavo se sentia ao mesmo tempo feliz e culpado. Estava junto com a
garota que amava, mas quanto mais a conhecia de verdade, via que ela não tinha
nada de profundo por trás daquelas lamurias e beleza estonteante.
Ele era uma pessoa com bastante conteúdo, e não era
difícil para ele conversar com ninguém, mas Roberta se mostrou uma exceção. Era
fácil falar com ela antes pelo fato dela só se queixar sobre seus problemas,
mas agora que tinha a oportunidade de ficar com ela por muito mais tempo, a
menina tinha conversas vazias e bastante fúteis com Gustavo.
“Que tipo de sujeito era esse Daniel? Devia ser um
imbecil que só queria comer ela ou era tão vazio quanto.”
Essas
visões superficiais de Roberta foram um pouco ofuscadas quando eles fizeram
sexo. Era a primeira vez de Gustavo, e isso pesou nele. Sentiu-se novamente
apaixonado pela garota, e esse êxtase durou duas semanas, quando eles fizeram
de novo outras vezes.
No fundo, Gustavo era uma pessoa sentimental, mas
inteligente. A imensidão do vazio da garota só era brevemente preenchida quando
estava dentro dela, mas depois disso tudo voltava a ser como antes. Uma loira
burra e mimada, que sempre conseguia passar de ano sabe lá Deus como. “Pelo
menos Daniel ‘treinou’ bem ela.” Era um pensamento bastante desrespeitoso com
uma pessoa morta, mas no fundo ele pensava realmente isso. Gustavo ainda estava
com a garota por pena dela e do homem que, quer queira quer não, acabou
provocando a morte.
Ele sabia que aquele ErFlor LaBak tinha o matado. E fez
isso por Gustavo, que ficou muito tempo observando. De certa forma ele se
sentia agradecido por aquela coisa, mas no final das contas não era tudo isso
que ele pensava.
Era uma pequena reunião de família, que era nem um pouco
questionável que Gustavo gostava da companhia de seus primos. Já haviam passado
algum tempo desde o começo dessa história, e talvez em uma festa modesta fosse
tirar isso da cabeça por algum tempo, mas a verdade foi diferente.
“E como está com a menina, Gu?”, Indagou Mario, um menino
magro e de óculos de aro grosso.
“Honestamente, eu to pensando em terminar...”
“Mas por quê? Vocês estão sempre postando fotos tão
felizes!”, o primo retrucou com certo espanto na voz.
Esse era o problema: todos achavam que estava tudo bem
com eles pelo o que viam nas redes sociais. Ninguém conseguia ver o que se passava
por quatro paredes e a grande concha vazia que Roberta era. Muitos de seus
amigos lhe diziam “seu malandro esperto, um cara inteligente como você merece
conquistar uma gatinha como ela”, mas estava vendo que não foi nenhum pouco
inteligente. Passou um ano e meio querendo algo que não era o que ele pensava.
Mas porque ainda ficava com ela? Será que era pena,
queria aproveitar os espólios depois de tanto tempo?
Ou
sentia medo? Mas de quê?
Eram nove e meia da noite. Gustavo estava evitando um
pouco Roberta, e pretendia romper com ela no outro dia. Quando então chegou uma
mensagem de alguém que ele não queria ter que conversar novamente.
“Como está com a garota, Gustavo?” O garoto demorou um
pouco para pensar em uma resposta, pensando no que poderia vir.
“O que você quer?”
“Eu só estou preocupado com você. Evitando sua mulher
assim, alguma coisa deve ter acontecido.” Ele nada respondeu, então ErFlor
LaBak continuou: “Você se cansou dela, não é mesmo?”
“Não é da sua conta, infeliz.”
“Se cansou mesmo... talvez você queira se livrar dela,
não é mesmo?”
Algo aconteceu no computador de Gustavo. Abrira uma aba
com um vídeo ao vivo. Por um momento seu coração parou, pois percebeu de onde
estava vinda aquela gravação. Era do quarto de Roberta, de seu webcam.
Ela estava em um estado catatônico, sentada na cama. Uma
grande sombra escura emergia do centro de seu quarto. Tinha a silhueta de algo
humanóide, como um grande chimpanzé esquelético e muito mais alto.
De suas sombras, emergiram vários fios pontiagudos que
começaram a enrolar o corpo de Roberta. A menina começou a sangrar dentro do
arame farpado que saia do corpo daquela criatura negra, mas nada disse. Gustavo
caiu da cadeira do computador quando aquela coisa olhou para a câmera.
“Achei que você fosse gostaria assistir essa coisa
morrendo.”
A sombra começou a ficar mais próxima da câmera quando
então aquilo aconteceu.
Da
tela do computador emergiu a mesma coisa que havia matado Daniel e Roberta.
Gustavo estava no mesmo estado de choque com aquilo que estava vendo. Sua
garganta se fechou e mal podia respirar. Aquela sombra negra tinha cheiro de
tinta e metal, e possuía vários olhos negros por todo o corpo.
“Você não gosta do que lê?” A coisa emitia um som que
mais parecia um sussurro. Não tinha certeza, mas a voz parecia sair de todo seu
corpo.
Não teve muito tempo para pensar sobre isso.
Ele nada respondeu, pois sua garganta estava muito
apertada. Sua língua havia se colado ao céu da boca como se fosse uma só coisa.
A criatura deu um passo à frente e sacou uma folha do papel da impressora de
Gustavo. Um líquido negro começou a pingar de sua mão em cima do papel, formando
palavras.
“Aqui está sua carta de despedida garoto. Você está
confessando seus crimes aqui. No fundo, é tudo culpa sua.”
De um dos olhos da criatura emergiu um grande fio de
arame farpado que se enrolou no pescoço de Gustavo. O sangue quente escorria
pelo seu corpo enquanto o fio era pregado no teto, junto ao ventilador. Gustavo
tentou lutar, mas sentia sua cabeça sendo dilacerada pelas farpas do arame.
“Eu lhe disse, Gustavo: um homem morto não namora.”
Seu estado de choque não passou até ver a criatura
entrando de volta pela tela do computador e desligando a máquina, enquanto
sentia sua vida se esvair a medida que sangrava.